Friday, July 01, 2011

Sophie Calle - Representação X Experiência

Ainda sobre o debate da representação sobre a experiência, gostaria de destacar um dos trabalhos de Sophie Calle: "The Blind"

A artista (chamá-la de fotografa seria muito específico ao seu corpo de trabalho que engloba tantas mídias) usou de um recurso muito simples mas efetivo. Ela entrevistou pessoas cegas. Mas para o trabalho, somente uma pergunta interessou: "o que é beleza para você"? Essa simples questão, no prisma de alguém que não enxerga, toma um outro significado. Pois o conceito de belo sempre esteve muito ligado a uma imagem, ou representação.

No momento em que os cegos respondiam a essa pergunta, Calle lhes tirava um retrato (provavelmente uma câmera de médio formato, 7x6, pb).





Sophie pensou estre trabalho para exibição, diferente de Donovan que visualizou em livro. Na montagem, o retrato tirado ficava enquadrado em moldura barata, dessas que se compram em lojas. O retrato ficava pendurado no canto de cima esquerdo, já a resposta para o que era belo à essa pessoa ficava à direita do retrato. Em baixo, uma imagem relacionada à resposta, todos com o mesmo tipo de moldura.

Há uma clara ligação entre imagem e memória, devidamente contextualizada pelo arranjo natural das molduras, muito parecido com os arranjos de molduras que se encontram em casas pelo mundo afora. Mas esse ligação é muito mais complexa: a imagem não é a representação de um momento, mas sim de uma percepção. Isso convida o espectador a interpretar essa idéia de beleza de uma outra forma, isso traz experiência a todo esse processo. Pois essas pessoas retratadas lidam com ela de uma outra maneira. Guy Debord, em seu livro a sociedade do expetáculo, disse que hoje em dia as pessoas vivem a experiência através de representações (i.e. televisão, cinema e etc), e por isso as imagens são mais reais que a experiência em si. O fato retratado se torna mais real que a experiência. O jeito de Calle de lidar com o óbvio, elevando o comum e mundano ao extraordinário, é o que faz desse trabalho, ao meu ver, um dos melhores que já vi, distorcendo um pouco a idéia de representabilidade na fotografia, incluindo a visão de mundo e participação do público para o complemento dessa arte.