Wednesday, November 07, 2007

A historia de Joao parte 3

Ela jurou um dia casar com Joao, mas isso foi antes de joao morrer. Claro que jah sabemos que Joao nao morreu, mas para ela sim: se vestiu de preto, fez luto. Quando avistava Joao andando pela praca, desmaiava: "vi um espirito" dizia. Dineide morava com sua irma mais velha, Joana, numa casa de dois comodos. Vivia as custas de costuras que fazia com a irma para as damas mais ricas da cidade; fazia bordados, vestidos, lantejoulas e tinha a fama de perfeccionista. Era relativamente jovem, estava no comeco de seus vinte anos, e poderia se casar de novo. Pretentende nao lhe faltara, era bonita: loira de olhos claros, corpo esbelto, olhar sereno. Os homens sempre a lhe cortejavam nas poucas vezes em que deixava a casa: ia a igreja todos os dias, e quando era nescessario ia ao armarinho. Joana insistia a irma a aceitar um dos convites: "o tempo passa e vc vai ficar sozinha". Dineide respondia: "sempre terei a ti, irma".

Claro que no fundo do amago queria sentir o calor de alguem, um toque mais intimo. Mas nao se entregava. Dineide soh amou a um homem, e a um homem soh amaria. Amou Joao, e Joao morrera. A ela soh restava a igreja, e a esperanca de um dia reencontrar seu amado em um lugar melhor.







Dineide continuou por mais 40 anos indo todos os dias a igreja, vestida de preto, ateh o dia em que morreu. Sua irma morrera cinco anos antes dela, e a Dineide nao se restou ninguem. Solitaria, o povo da cidade, nos anos antes de morrer, a apelidou de Viuva Negra. No final, ela jah nao costurara, quase nao comia, tinha dificuldades para andar e perdera a nocao das coisas e do tempo. Confundia as pessoas, as vezes chorava no meio da rua, pensando ser aquele o dia em que Joao morrera. Nao lhe restou um centavo, e nunca suspeitou da pessoa que lhe deixava na porta algum dinheiro e um pouco de comida. No dia de sua morte, estava voltando devagar da igreja quando sentiu seu coracao doer. Caiu de joelhos no meio da praca, mas ninguem a percebeu. Se pos de peh com dificuldade, mas a dor que sentia lhe tirava aos poucos a forca que lhe restara. Um homem entao lhe acudiu, a segurou na cintura e a acompanhou ateh a casa empoeirada de Dineide. Ele a pos na cama, a cobriu e beijou-lhe a boca.

Dineide, entre a dor e o canssaco entre o tempo e as coisas, entre a vida e a morte, consegui enxergar nas rugas e barbas daquele velho senhor o homem que um dia amava. Entao a dor o cassaco o tempo as coisas a vida jah nao existiam mais. Dineide morrera. Em seu enterro, ninguem chorou por ela, somente um morto que nao a teve em vida e nem em morte.

Tuesday, November 06, 2007

Friday, November 02, 2007

Body in moviment - by Rodrigo Ferreira

A historia de Joao parte 2

Agora um professor meu diria: "Cade a apresentaçåo do personagem? De onde ele vem? como ele eh? O leitor tem que se indentificar com ele". Ora, caro professor, que mais belo jeito de apresentar Joao do que comentar sua escolha pela arvore a plantar, uma existencia ligada a outra, tao importante para o desenvolvimento do personagem.

Nao eh coisa facil, imagine voce. Existem tantos tipos de arvore a ser. Saber o tipo de madeira que enfim o carregaria desta vida era tarefa ardua. Joao pensou em mogona, madeira fina, cor imponente. Pensou em carvalho, o carvalho eh mais facil de cuidar e carregar. Mas cresce muito rapido, pensou. Entao o figo, a macieira, o peh de laranja-limea, talvez alguma coisa que lhe traga sombra e comida. Alguma coisa doce. Ou o peh de canela, mas esse nao cresce muito. Pensou tanto, qual madeira se aplicava mais a sua ideologia, decidiu por uma coisa mais regional: monjoleiro, juqueri-guaçu, maricá, paricarana-de-espinho, casca-d'anta, castanheiro, eucalipito,magnolia e assim vai. Sao muitas, as arvores.

Joao decidiu por uma de cor especial, um vermelho profundo que mancha. Muito usada por ex nativos para colorir roupas, Joao achou essa arvore especial. Cresce no tempo certo, fica na altura ideal, da sombra e conforto que Joao vai precisar nos anos que ele ira viver. Pegou sua semente, escolheu um pedaco de terra boa e macia, abriu um pequeno buraco e plantou aquele pedaco de vida.