Agora Joao tinha uma mae, pois todos temos mae. As vezes se nasce sem pai, outras o pai eh outro. De vez em quando o pai vai embora. Mas a mae fica. Vem do ventre, uma existencia simbiotica a outra; nao, simbiotica nao, parasital mesmo. A mae nao tem como fugir, desde cedo o filho a rouba a nutricao e saude: pois se ha a existencia do filho, eh por causa da gestacao da mae.
Pois quando disserem a mae de Joao que seu filho morrera na cruz, ela nao acreditou. Todos a aconselheram a vestir preto, a fazer luto, orar pela alma de Joao. Ela achava bobagem e dizia: "meu filho vai bem, cuide do seu". Ateh o pai havia se conformado, e ficava preocupado com a situacao de sua esposa: "ficou louca depois de velha".
A mae Nao acreditava naquela besteira de que Deus o levara, de que estaria morto mesmo que vivo. "Sua alma nao estah entre nos, aquilo eh soh uma casca vazia", diziam mas a mae nao acreditava, conhecia bem ao seu filho, e ninguem a podia enganar. "O Pai Supremo", como chamavam deus naquela sociedade, "sabe o que faz". "Pro inferno com o Pai", respondia, "eu sou a mae e sei melhor".
De fato naquela sociedade Deus representava a morte, o castigo e a danaƧao. Deus via tudo, Deus sabia de tudo. Se a Deus nao respeitassem, era a morte. Se a Deus nao orassem, era a morte. Deus era a luz e a noite. Deus era o homem, era o pai. Jah a naturesa representa a vida, a flor que brota, a comida que nasce. Temos uma relacao simbiotica com a natureza; as vezes parasital. A natureza eh a mae, e a mae eh a vida.
Um belo dia os homens da igreja levaram a mae de Joao e a sentenciaram a morte. Era uma herege, vejam bem. No dia da execussao, quando lhe cortaram a cabeca, a mae chorou, e muito. Nao porque ia morrer, porque todos morrem, mais cedo ou mais tarde. Deus mata. Nem pela vergonha da excomunhao publica, jah nao ligava mais pra isso. Chorou por ser mulher, e por tantas vezes nesse mundo em que a vida chora.
Monday, March 17, 2008
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