Sunday, September 10, 2006

Celito foi embora

Chegou por aqui passional. Encontrou no carnaval um rabo-de-saia daqueles de largar a familia, e fez: largou. Deixou tudo pra traz, todos os planos, nao fez a prova da OAB, deixou o emprego no dia seguinte. Era esse tipo de rabo-de-saia. Veio as pressas, nao quis saber de esperar visto, estava apaixonado. Chegou ilegal, teve que suportar a amargura dos piores empregos, de advogado virou limpador de pratos. E a mulher a que veio, o que eh pior, o largou logo no primeiro mes. Triste, e foi assim que o encontrei, triste. Moramos juntos numa casa, e a principel nao fui com a cara dele, devo confessar. Se lamentava muito: pelo emprego, a mulher e a mae que o pario. Mas o tempo foi passando, as amarguras foram se acabando, se esgotaram.

Celito eh um bom rapas. Religioso, de vez em quando ia a missa aqui perto, e sempre contava com a Mother Mary pra levar seus problemas embora. O doctor Robert da casa, eu costumava dizer, pois fornecia aos outros a palavra. Trocou o rabo-de-saia pelo objetivo de viajar o mundo. E hoje a noite ele partiu, destino a Paris, e depois quem sabe.

Engracado, a partida. Eh emocional, o inicio e o fim, a dualidade que todas as vidas se encernam. Eu e celito tinhamos feitos planos pra essa viagem, iriamos juntos. Apostamos quantas mulheres de paises diferentes seriamos capazes de pegar. Planejamos rota, vimos precos. Mas nao foi assim. Ele partiu soh... Celito entende, um rabo-de-saia deixa o homem bobo, faz ele mudar os planos.

Cada um tem sua estrada. Cada pessoa constroe sua trilha. Um dia o pai do meu pai se despedio dele quando seu filho veio pra Sao Paulo, tentar a vida. Eu me despedi de meus pais no Aeroporto e vim pra Londres. E por mais que a gente queira estar com todos os que amam o tempo todo, nao dah. O que fica eh a lembranca de as estradas terem se encontrado, mesmo que por breve. E quem sabe o que tem depois, o que vai surgir na curva? Um dia os caminhos pode se encontrar de novo, o mundo eh pequeno. E nao importa que caminho se tome, o destino e o mesmo pra todos. E eu vou estar lah, no fim do caminho: eh soh me procurar. Eu vestirei uma camisa do AC/DC, carequinha carequinha, cantarolando Elis Regina, encostado num poste. Vc tem todo o tempo do mundo pra me achar, e eu vou estar sem pressa, prometo.