Quando nasceu, ela teve de empurar o mundo com a cabeca, combater todas as possibilidades que a negavam a existencia. Joao, sentado a sombra de sua arvore, um dia reparou aquele pequeno brotinho que lutava pela vida, e resolveu batiza-la de Tatiana.
Por muito tempo Joao teve Tatiana por compania. Eles conversavam sobre a vida, riam sobre a verdade universal, sentiam frio e calor juntos. Joao acompanhou todas as fases de crescimento de Tatiana: o dia em que nasceu sua primeira folha, a consolou quando teve espinhos durante a adolescencia, aguentou sua ansiedade quando estava para brotar.
Um dos momentos mais felizes da vida coletiva de joao e a flor foi quando Tatiana se abriu. O dia era lindo: estranhamente fazia um lindo sol com um chuva fina e constante. As petalas de Tatiana brilhavam com o orvalho da manha, seu perfume acalmava Joao e o mundo era lindo e perfeito. Joao cantou, como nao fazia desde que tinha morrido, e fechou os olhos e sonhou que voava entre as estrelas.
Ao acordar, Tatiana estava morta. Suas folhas muchas, o caule inclinado. Joao gritava por ela, mas jah nao podia responder mais. Joao, de joelhos com o rosto inclinado postado ao lugar que Tatiana sempre ficara, pos-se, lentamente, depois de uma longa pausa, a chorar. Suas lagrimas iam escorremdo o rosto e molhavam Tatiana e a terra em volta de Tatiana. Nao sei por quanto tempo Joao chorou, mas foi o bastante para que com o sal de suas lagrimas nada mais pudesse nascer, crescer e morrer naquele lugar.
Wednesday, February 27, 2008
Monday, February 25, 2008
A historia de Joao parte 5
Agora o mundo gira. Nisso nao ha duvida, mas eh claro que muita gente duvida. Mas eu repito, nao importa o que aconteca, com ou sem Joao, com ou sem ninguem, o mundo gira, e nao a nada que se possa fazer sobre isso.
Mas a pergunta fica: se nao ha ninguem para ver que o mundo girou, o mundo realmente girou? Se nao ha ninguem para presenciar a existencia, sera que ela realmente existe? Um som eh som sem ninguem para ouvi-lo? Ora, o som se faz na presenca de um receptor, e o mundo soh passou a ser mundo a partir de quando alguem passou a reconhecer o mundo como o mundo. E o mundo, assim, girou.
Pois Joao via o mundo girar, e o mundo girava. Entre dia e noite, verao e inverno, Joao reconhecia sua propria existencia meramente pelo falo que ele reconhecia que o mundo girava. Vejam, isso eh um fato importante: tinha dias que ateh mesmo Joao duvidava que estava vivo. De vez em quando pensava: "Sera que nao estou mesmo morto como todo o mundo pensa que estou e soh eu estou errado?". Mas entao Joao via o mundo girar, e isso o tranquilizava. Pois veja voce: o mundo nao gira para os mortos, ele para no exato momento de seu ultimo suspiro.
Mas a pergunta fica: se nao ha ninguem para ver que o mundo girou, o mundo realmente girou? Se nao ha ninguem para presenciar a existencia, sera que ela realmente existe? Um som eh som sem ninguem para ouvi-lo? Ora, o som se faz na presenca de um receptor, e o mundo soh passou a ser mundo a partir de quando alguem passou a reconhecer o mundo como o mundo. E o mundo, assim, girou.
Pois Joao via o mundo girar, e o mundo girava. Entre dia e noite, verao e inverno, Joao reconhecia sua propria existencia meramente pelo falo que ele reconhecia que o mundo girava. Vejam, isso eh um fato importante: tinha dias que ateh mesmo Joao duvidava que estava vivo. De vez em quando pensava: "Sera que nao estou mesmo morto como todo o mundo pensa que estou e soh eu estou errado?". Mas entao Joao via o mundo girar, e isso o tranquilizava. Pois veja voce: o mundo nao gira para os mortos, ele para no exato momento de seu ultimo suspiro.
A historia de Joao parte 4
Joao calejou. Um paria, um fantasma. Esquecido, nem gente nem bixo. Invisivel. Teve dias que preferia ter morrido, pois aos mortos sempre lembravam. O que era pior, quando alguem passava a sua frente, fingia nao ve-lo. Aos poucos Joao se tornava um recluso e soh saia debaixo da sombra de sua arvore para comer. Do alto de seu morro via a cidade se movimentar como uma peca de relogio aberta, seus habitantes comprindo funcao exata e sistematica para o funcionamento da maquina, e o tempo passava. Joao contemplava o ceu e o universo. Sua mente viajava entre as estrelas e o infinnito. Comecou a ter uma nocao melhor das coisas, do significado da vida.
Em um belo dia, quando olhava uma formiga que carregava um pedaco de folha para sua rainha, um estalo lhe veio: finalmente compreendera. O que? Ora, tudo. Entendera tudo. Comecou como ideia, depois virou verdade e por fim certeza. Joao riu. Melhor: gargalhou. Nao que achava aquilo engracado, nem tampouco gozava da verdade universal. Joao riu nao porque a verdade era bananal, mas sim porque era obvia.
Em um belo dia, quando olhava uma formiga que carregava um pedaco de folha para sua rainha, um estalo lhe veio: finalmente compreendera. O que? Ora, tudo. Entendera tudo. Comecou como ideia, depois virou verdade e por fim certeza. Joao riu. Melhor: gargalhou. Nao que achava aquilo engracado, nem tampouco gozava da verdade universal. Joao riu nao porque a verdade era bananal, mas sim porque era obvia.
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