Sao meio dia aqui, e jah comeca a primavera. Todos estao dormindo nesse domingo, e a ressaca me moi o cranio. Na radio Beatles, e soh Beatles, como se no mundo nao se precisasse escutar outra coisa. Nao sei porque, mas durante a manha inteira (estou acordado desde as oito) pensei em casa, Sao Paulo, como se tudo aqui me parecesse lah, ou se lah fosse como aqui. Nao que haja qualquer similariedade, mas fecho os olhos e me vejo caminhando em casa, na minha cama, no meu quarto baguncado com roupas e livros por toda parte, e no corredor eu trombo na escrivania e acordo minha mae, que pede para meu pai ver o que aconteceu, que desse do andar de cima e aproveita para fazer um lanchinho e me beija carinhosamente na bochecha. E a porta da sala abre de subito e dela Garavelli, fruto de uma amisade de mais de dez anos que nao precisa ser anunciada. Meu pai o abraca e convida para partilhar do lanche. Saio da minha casa, e na minha mente esta clara, o mesmo hall do elevador, com pisos marrons, as paredes brancas. As duas portas do elevador enfileiradas na direita, e eu aperto a botao do elevador social, e agora me vejo no espelho a espera e a angustia. Vejo as ruas no meu caminho, o meu caminho, que conheco cada rachadura, cada bosta diaria no chao, cada buraco. O meu caminho, que sempre faco para ir pra faculdade, ou cursinho, batista, Gara, Ivo, Pedro ou pra sair livre pelo meu caminho. Londres eh plana, diferente de perdizes onde em cada morro se esconde a surpresa do horizonte. Cada onibus duplo se encole e se pinta de branco e vermelho. O torcedor do arsenal se transforma em um sao paulino feliz. As ruas se apinham de gente, as mulheres tiram o agasalho e se fazem mais tinhosas, a Oxford street vira a Paulista, a Trafalgar se apinhota de moleques cheirando cola e me vejo na Seh. O Thames passa a feder e da ponte imagino me jogando no Tiete.
Em toda a parte aqui eu reconheco Sao Paulo, mas em toda a parte eu sei que nao eh, pois em tudo reconheco como meu numa uniformidade a ser construida, uma natureza selvagem a ser domada de acordo com a minha mente, como uma obra de arte abstrata, e a minha mente sempre tenta elaborar a cidade perfeita, o lugar perfeito de se estar, e em tudo eu reconheco em algo essa perfeicao, mas tambem eu vejo que aquilo nao me pertence, pois se ao mesmo tempo me sinto parte de tudo, sinto tambem que nao pertenco a lugar nenhum.
Sunday, March 12, 2006
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