Saturday, June 11, 2005

Requiem pelo Kadetao

Ele surgiu na familia quando eu tinha 10 anos. Na epoca eu e meu irmao tinhamos que esperar a minha mae no portao lateral do colegio, pq ela nao nos deixava voltar a pe. Enquanto esperavamos, conhecemos um menino bobo de nome Ivo, que tambem tinha que esperar a mae chegar num Veraneio. De vez em quando pegavamos carona no Veraneio dele. De vez em quando, ele ia com a gente, no nosso famoso Kadetao.
O colegio foi passando, e ao meu irmao e ao Ivo eu agreguei mais amigos: Garavelli, Guilherme, Luciano, Mauricio, Glauco, Marcus, Fabrizio. Viramos a Mafia. E, claro, o Kadetao. Acho que por essa epoca a minha mae desistiu do carro, ganhou um mais novo, e passou o possante para o meu pai. Meu pai o usava para tocar os servicos de "peao": viajar pra ver obra, entrar em terreno e sujar sujar sujar. Ele jah tava comecando a mostrar uma certa fadiga. Comecava a falhar.
Nessa epoca o Kadet foi pro Gara, dar umas bandas em outra familia. Foi bem tratado lah, o Gara sempre gostou bastante dele.
Pois bem, completei 18 anos, tava no cursinho. Quando a minha carta de motorista veio, o Kadet passou pra mim. No primeiro dia que eu o peguei pra dirigir, o Glauco tava do meu lado, iamos pro Ivo, aquele mesmo moleque bobo do Batista. O carro estranhamente nao parava de morrer. Achei que era pq eu era motorista novo, nao controlava bem a embrenhagem. Cheguei no Ivo, e o cheiro de queimado me fez olhar pra baixo: tinha esquecido o freio de mao puxado.
Outras merdas vieram, mas o Kadet me ensinava bem: aprendi muito com ele. Lembro que quando entrei na faculdade, conheci esses dois caras, o Arturo e o Leandro. Era algum feriado, e resolvemos fazer um bate volta pra praia. Era a primeira vez que eu pegaria uma estrada, e eu resolvi falar pros meus pais que eu tava na casa de uns amigos. Tinha medo que eles proibissem. Pois bem, fomos a praia. E devo dizer que me sai muito bem. Dirigi perfeitamente. Estava cool, na estrada, de oculos escuro. Fomos pro Guaruja, o dia foi maravilhoso, muito sol.
Na volta, jah nas brumas do entardecer, pegamos o Kadetao, que haviamos deixado num estacionamento, quando eu descobri que havia esquecido meu oculos em casa. Soh estava com o escuro, entao quem voltou dirigindo foi o Arturo.
Foram bons momentos com aquele carro, vou sempre me lembrar dele com carinho. Mas ele estava velho, andava falhando muito.
A poucos dias atras, meu pai me avisou que vendeu o Kadet.
Fiquei triste, me senti sozinho e altamente melancolico. Nao pude evitar. Fui dormir mais cedo naquele dia e nos sonhos me veio a imagem: o kadet sozinho na garagem, triste desde que eu fui embora. Como um cachorro que olha pelo portao, e espera todo dia o retorno de seu dono, para poder mais uma vez brincar pela rua. Mas esse dono foi embora, foi viajar por um tempo, correr mundo, mas dessa vez sem o Kadet. E nos ultimos dias ele sentia muita dor, coitado. Estava velho, o Kadet, e o meu pai teve de abate-lo. Imagino ele no ceu dos carros que foram bons, ao lado do velho Dodginho do meu avo, paquerando uma Ferrari. O Kadet sempre foi um travesso.
Leva consigo um pouco de todo o mundo que jah rodou com ele: minha mae, meu pai, o Ivo, o tio Ari, os Garas, meu Irmao, toda a mafia, todos os FMs e todas as pessoas que foram, e sao, importantes na minha vida. E leva um pouco de mim tb.

Adeus, velho amigo.

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