Tuesday, November 28, 2006

Todo mundo pastou

No chao que um pasta, dois pastaram, dez pastaram e eu tambem pastei.

"Ninguem, eu penso, estah na minha arvore
Eu acho que deve ser alta ou baixa
Isto eh voce sabe que nao se pode medir isto
Mas estah tudo bem
Isto eh eu acho que nao eh tao mal..."

Um pasta e dois pastam e todo mundo pasta no chao que eu pastei.

Um pombo perneta voa e agradece nao ser maneta. Mas tem medo de aterrisar, o coitado. Um dia desses uma manifestante jogou sangue na vitrine de uma loja de vestidos de pele. Eu me pergunto onde ela arranjou esse sangue. Um ex-espiao russo morreu envenenado, aparentemente, por outro ex-espiao russo. Isso ocoreu num restaurante ao lado do meu, num dia normal de trabalho, na hora do almoco. Radiacao, disseram. Um spray radiotivo jogado na comida do cara. Todos que almocaram naquele restaurante naquele dia tiveram de ir ao hospital para ver se nao estavam contaminados por radiacao. O motivo eh que esse cara era contra o atual regime ex-cominista ex-ditatorial. Mas se perguntarem, nao fui eu quem contou.

It's very nice pra xuxu!

Eu posso ter esbarrado nesse cara. No dia eu andava, esbarrei em algumas pessoas como sempre. Nao me recordo dos rostos porem. Posso ter me encontrado com esse cara, o ex-espiao que morreu. Ou ateh mesmo com o ex-espiao que matou. Se ao menos eu me recordasse. Talves eu vah pro hospital verificar se nao estou radioativo.

Alias, quem descobriu a radiacao foi uma polonesa. Ela foi a primeira mulher a entrar na faculdade de Soborne (eh assim que escreve?) em Fisica e Quimica. Casou com um frances, co-descobridor. O casal morreu contaminado por radiacao, um tempo depois de descobrirem que o que descobriram era perigoso.

Agora botaram isso numa latinha de spray. Aqui na inglaterra tem um dito sobre as lebres de marco. Aparentemente esse bixo fica doido nesse mes. As lebres de marco. E tem a vaca louca tambem. O primeiro caso de vaca louca na Europa aconteceu em um Macdonald's. Um Crasy Mac. hehehe. Mas nao eh marco, nao eh? E quem nao eh louco nesse mundo? Quem acho que tudo estah certo, que a vida encontrou um equilibrio, levanta a cabeca em um dia de trabalho, quer aproveitar o fim de semana merecido.

Nossas noites de ilusao.

"Sempre sei as vezes penso que sou eu
mas voce sabe eu sei quando eh um sonho
Eu acho que um "Nao" vai significar um "Sim"
Mas estah tudo errado
Isto eh eu acho que discordo"

E continuamos pastando no mesmo chao que eu pastei amanha. Talvez. Ou nao.

Monday, October 02, 2006

Sunday, September 10, 2006

Celito foi embora

Chegou por aqui passional. Encontrou no carnaval um rabo-de-saia daqueles de largar a familia, e fez: largou. Deixou tudo pra traz, todos os planos, nao fez a prova da OAB, deixou o emprego no dia seguinte. Era esse tipo de rabo-de-saia. Veio as pressas, nao quis saber de esperar visto, estava apaixonado. Chegou ilegal, teve que suportar a amargura dos piores empregos, de advogado virou limpador de pratos. E a mulher a que veio, o que eh pior, o largou logo no primeiro mes. Triste, e foi assim que o encontrei, triste. Moramos juntos numa casa, e a principel nao fui com a cara dele, devo confessar. Se lamentava muito: pelo emprego, a mulher e a mae que o pario. Mas o tempo foi passando, as amarguras foram se acabando, se esgotaram.

Celito eh um bom rapas. Religioso, de vez em quando ia a missa aqui perto, e sempre contava com a Mother Mary pra levar seus problemas embora. O doctor Robert da casa, eu costumava dizer, pois fornecia aos outros a palavra. Trocou o rabo-de-saia pelo objetivo de viajar o mundo. E hoje a noite ele partiu, destino a Paris, e depois quem sabe.

Engracado, a partida. Eh emocional, o inicio e o fim, a dualidade que todas as vidas se encernam. Eu e celito tinhamos feitos planos pra essa viagem, iriamos juntos. Apostamos quantas mulheres de paises diferentes seriamos capazes de pegar. Planejamos rota, vimos precos. Mas nao foi assim. Ele partiu soh... Celito entende, um rabo-de-saia deixa o homem bobo, faz ele mudar os planos.

Cada um tem sua estrada. Cada pessoa constroe sua trilha. Um dia o pai do meu pai se despedio dele quando seu filho veio pra Sao Paulo, tentar a vida. Eu me despedi de meus pais no Aeroporto e vim pra Londres. E por mais que a gente queira estar com todos os que amam o tempo todo, nao dah. O que fica eh a lembranca de as estradas terem se encontrado, mesmo que por breve. E quem sabe o que tem depois, o que vai surgir na curva? Um dia os caminhos pode se encontrar de novo, o mundo eh pequeno. E nao importa que caminho se tome, o destino e o mesmo pra todos. E eu vou estar lah, no fim do caminho: eh soh me procurar. Eu vestirei uma camisa do AC/DC, carequinha carequinha, cantarolando Elis Regina, encostado num poste. Vc tem todo o tempo do mundo pra me achar, e eu vou estar sem pressa, prometo.

Tuesday, August 22, 2006

Comprei um computador. Isso deveria me deixar mais prolixo, eu deveria escrever mais. E se deixou foi para mim soh, e nao houve espaco para internet, mais ainda para um diario virtual. Escrevo sim, confesso, mas nao publico. Nao que tenho algum misterio, faco grandes coisas, penso alto: um romance ou o inferno que seja. Nao publico pq nao acho que valha a pena publicar. Mas escrevo pq me viciei na coisa, eh uma terapia, me relaxa. Saio do mundo e deixo fluir as horas.

O mundo estah cheio de merda. Coisas estranhas. As ruas de Sao Paulo, um exemplo, eh um campo minado. Se tem de olhar pra baixo o tempo todo naquela cidade. Se pensa que no velho continente eh mais civilizado, que as pessoas limpam a merda feita pelos devidos animais, mas nao. A diferenca eh que aqui se tem mais dinheiro, entao se manda limpar. Se tem um carrinho que anda todo o dia aqui em Londres, e que aspira essas coisas. O dia inteiro um carinha dirige esse carro. Eu nao me importaria de fazer isso da vida. Vc poem uns oculos escuros e um fone de ouvido e manda o mundo pro inferno. Vc pode pensar que nao eh dignificante, ser motorista de carros anti-merda. Que ser um advogado ou um escritor seja melhor. Mas eu digo: Olha Sao Paulo. Se tem advogado e escritores lah, talvez ateh mais do que aqui, mas nao se pode andar em paz naquela cidade sem que se pise numa merda. Se me perguntarem eu prefiro um carrinho anti-merda.

Friday, August 04, 2006

Dudududududududududududududududududududududududududududududududududududududududududu
dudududududududududududududududududududududududududududududududududududududududududu
dudududududududududududududududududududududududududududududududududududududududududu
dudududududududududududududududududududududududududududududududududududududududududu
dudududududududududududududududududududududududududududududududududududududududududu
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dudududududududududududududududududududududududududududududududududududududududududu
dudududududududududududududududududududududududududududududududududududududududududu
dududududududududududududu. Espero que tenha sido o suficiente...

Tuesday, July 25, 2006

Rotterdam e Amsterdam

Eu estou aqui na internet cafe, e acabei de reservar voo pra Holanda, pro mes que vem. Vai ter um feriado aqui, do dia 25 ao dia 28 de agosto, e eh nessa data que eu vou. Visitar os museus que tem lah, e nada mais. Prometo

Thursday, June 29, 2006

Berlim

Fui pra copa. Sim, fui pra copa. Eu jah disse que fui pra copa? Pois eh, fui pra copa. Acabei de voltar da Alemanha, passei bem. Depois de duas semanas na Polonia, eu fui pra inimiga mortal deles. Mas me surpreendi, ao menos em Berlin, jah que a cidade eh uma das melhores que jah conheci, e pra quem pensa que eu nao vi grandes cidades o suficiente, ae vai a lista de algumas:

Liverpool;
Londres;
Edinburough;
Krakovia;
Paris;
Bruxelas;
Buenos Aires;
Sao Paulo...

Mas Berlin, sei lah, tem muito charme. Tem um predio no lado comunista da cidade que a parede de fora foi toda destruida pela guerra. Esse predio foi habitado, lah pelos anos setenta, pela comunidade artistica da cidade, e ateh hoje a galera que curte arte mora lah. Porra, que selissimo! E as mulheres, meu deus, sao muito fodas. Todas sao loiras de dois metros e bem fartas de peito e bunda. Todas! E a cerveja eh boa e barata... O unico defeito eh soh se falaa alemao lah (daaaaahhhhh) entao desistimula todo um projeto de me mudar praquela cidade...
Mas continuando, Berlim: pra quem nao sabe na guerra fria a cidade foi dividida por um muro. De um lado o socialista Russo e do outro o capitalismo americano. Adivinhem qual lado eu gostei mais? Quase nao fiquei no lado Ocidental, nao que nao seja bonito, ao contrario, era o mais bonito na concepcao exata de beleza: limpo e organizado. Mas era tb parecido com outra cidade qualquer, e como todo o produto capitalista, sem alma. Jah no lodo comuna, sei lah, os predios ainda tinham buracos de balas. Tem sangue ali, acreditem em mim. Mas soh tando lah pra sentir isso.

Alo alo marciano

London Calling do Brazil: Tem alguem ai? Faz tempo, nesse interim esqueci e fui esquecido. Naum que eu reclame jah que eu estou bem aqui, e espero a felicidade de todos dai. Fiquei sabendo que a Julia apareceu no Jo Soares, minha mae contou, numa especie de estagio com o Caco Barcelos. Acreditem ou naum mais eu fico muito feliz com noticias como estas... Eu soh queria estar ai para abracar a Julinha pessoalmente, e quem conhece a Julia sabe que o prazer seria todo meu. Abraco tb quero dar pro Guga, que estah noivo. Noivo! Eu estava lah no primeiro beijo na Ju, e o casal havia me prometido ser padrinho (se a irma do Guga ainda estivesse solteira). E se eu conheco o Guga, a festa vai ser com tudo do bom e do melhor. Meu irmao foi promovido no emprego, tah ganhando mais aquele capitalista. O meu playbissimo predileto agora tah fazendo cu doce pra ver se vem pra Europa ou nao... Vem logo moleque, aproveita que agora tah passando bem e visita esse pobre coitado que tah feliz, eh verdade, mas que no dia de finados morre nao consegue evitar que uma lagrima escorra do olho esquerdo. "Corre menino, lavo o rosto, engole a seco a dor nos teus olhos e pinta um sorriso na cara, nao deixa o mundo ter o prazer de ver o que faz com o teu tempo..."

Tuesday, June 06, 2006

Moja Kochana

Mais longe que um Boro jamais ousou a ir. E pra onde, meu deus: Polonia! E fazer o que? Fui num casamento. Pois eh, uma guria aqui, doida soh pode ser, me convidou pra ir com ela. Me obrigou! E que festa, comida e bebida, Wodika, a noite inteira. E danca! Eu que nao danco, dancei. Me obrigou, senao dancava com outro, disse. Entao dancei. E me diverti como nunca, devo confessar. Vcs que imaginem, eu que nao dancava, dancei! A noite inteira. Eh claro que a Wodika ajuda e a falta de talento dos Polacos tb. Mas as musicas eram muito divertidas. Todos formavam um circulo e pulavam o tempo inteiro, e cada casal ia pro meio e dancava um pouco. Eu tb fui, senao ela ia com outro, e estava bebado. Pulei feito doido. De meia em meia hora havia intervalo da banda, e todos voltavam a mesa pra comer e beber mais. Dasdrovia! Sete diferentes pratos quentes e tradicionais polacos, chucrute, croquete, strognofre, porco, e uns nomes que eu nao me lembro. Como comi! E sempre regados com Wodika, Dasdrovia! Fui a Auchwitz tambem. Triste, muito triste. Ha um salao cheio de cabelos coletados de mulheres e criancas para servirem de tecido. Uma sala cheia! Uma sala cheia de roupa de criancas que os Nazistas coletavam quando elas iam pra fornalha. Num painel estava escrito: "Em Auchwitz, de 232 mil criancas que entraram soh 625 sairam vivas". Eu vi as fornalhas tb. Era um banker grande, com uma porta de ferro que levava a uma sala escura com um unico cano. Desse cano saia um gas que paralizava todos os musculos das pessoas, que morriam sufocadas. entao os Nazis entravam e recoliam aneis e dentes de ouro. o que sobrava ia pras fornalhas, que ficavam numa sala adjacente. O corpo entao cozinhava durante 40 minutos, e das cinzas eram feitos materias de construcao. Tiveram outras historias, mas eu nao quero falar sobre isso, nao agora, pelo menos...

Sunday, March 26, 2006

Ridi pagliaccio

Pobre Pierro, tropecou no proprio coracao. Danado, metido a malandro, arrancou-le do peito e pregou na porta da Columbina. Nao sabe dos novos tempos, coracão pregado nao eh armadilha, virou cilada. Deixou-se fluir no tempo da pressa. Não sabe que o verdadeiro significado do amor nao vale o beijo de menina namorada. Rejeitado, o coracão, largado no chão, pisado e mijado. Columbina hoje não sonha, aprendeu a voar, usa chapeu e gosta de uma fanfarra. Virou independente, ve se pode!

A arlequinada toda invade a cidade e inunda cada fresta de rua podre e transforma cada hora monotona em uma rotina de alegria e orgia. Vieram do leste, ciganos do ocaso, trouxeram na bagagem maravilhas sem igual: um tapete persa que no comando “haslam” eh capaz de voar (se vc pesar menos de 80 kilos); trouxeram uma pedra mais brilhante que o cristal e que em um toque lhe rouba o calor, e de rara beleza, mas nao por ser rara, mas por se desfazer rapido. Trouxeram um roxinal roxo que canta em mil linguas (menos o portugues); vieram em sua mala Caliope, musa de mil feitos e habilidades, capas de inspirar o mais inepito dos homens.

Trouxeram a luz e a alegria, guitarras de dez cordas, trompetes de vinte metros, tambores de aimores; trouxeram a musica numa escala hiata decrescente, mostraram a oitava nota musical e levaram o barulho nesta cidade quieta e silenciosa. Rodaram saias, aprontaram com meninas virgens, roubaram o sono dos homens, provocaram brigas e suicidio dos apaixonados; molestaram padres e freiras, roubaram risos e lagrimas. Mas Pierro bobeou. Pregou seu coracão em porta errada. Andou por muito tempo no pais dos sonhos e se esqueceu da realidade.

A arlequinada vai embora e leva as suas guitarras, musas e tapetes. Vai num sopro gelado, cabisbaixa e humilhada. Toca uma fanfarra, uma marcha funebre de enterro Polaco, e seu som se vai cada vez mais distante, mais distante, mais

D
is
ta
nt
e...

Thursday, March 23, 2006

Seu Ze do IML

-Alo?
-Alo seu Ze.
-Dona Rita! Quanto tempo, como vai a senhora?
-Com o coração que não se aguenta...
-Seu fiho?
-Meu filho...
-O mais novo?
-O mais novo...
-Esses filhos não sabem tratar bem os pais, deixam a gente apavorados com tanta violencia por ai... Eu que sei!
-O senhor que sabe...
-Hoje mesmo, chegou um aqui muito parecido com a foto que a senhora me deu. Acidente de moto. Mas eu imaginei que a senhora não fosse deixar o seu menino andar de moto.
- De jeito nenhum! Nem bicicleta, q não eh nem com ele que eu me preocupo, mas com os outros. Tanta imprudencia nessas ruas, o senhor que sabe!
- Eu que sei. Mas faz tempo que eu não recebia sua ligação, costumava ser semanal... As noites passam frias aqui, e de vez em quando faz bem falar com uma alma viva. Alconteceu alguma coisa grave? Seu filho desapareceu denovo?
-Sim. E não da noticias...
-Olha, eu vou dar uma checada pra ver se a gente não recebeu mais nenhum pacote...
- Não precisa se incomodar não. Ele não ta ai.
-Sem querer parecer insensivel, mas aqui eh o destino de todos.
-Não tem como ele estar ai, ele nao esta nesse pais. Acho que eu ter te ligado foi soh um reflexo. Acordei assustada, pensando no mundo, tão violento...
-Realmente...
-Pois bem, acostumada como era, peguei o telefone e disquei esse numero.
-Então tah.
-Desculpa incomodar.
- Não foi incomodo não.
- Boa noite pro senhor.
- Durma com os anjos, dona Rita.
.
.
.
- Seu Zeh, ainda tah na linha?
- To sim...
- Me faz um favor? Me dah soh uma olhadinha pra ver se ele não ta ai; ja que liguei, não custa nada averiguar... O senhor eh que sabe.
- Eu que sei. Pode deixar dona Rita, eu vejo sim.

Sunday, March 12, 2006

Ai de mim Perdizes

Sao meio dia aqui, e jah comeca a primavera. Todos estao dormindo nesse domingo, e a ressaca me moi o cranio. Na radio Beatles, e soh Beatles, como se no mundo nao se precisasse escutar outra coisa. Nao sei porque, mas durante a manha inteira (estou acordado desde as oito) pensei em casa, Sao Paulo, como se tudo aqui me parecesse lah, ou se lah fosse como aqui. Nao que haja qualquer similariedade, mas fecho os olhos e me vejo caminhando em casa, na minha cama, no meu quarto baguncado com roupas e livros por toda parte, e no corredor eu trombo na escrivania e acordo minha mae, que pede para meu pai ver o que aconteceu, que desse do andar de cima e aproveita para fazer um lanchinho e me beija carinhosamente na bochecha. E a porta da sala abre de subito e dela Garavelli, fruto de uma amisade de mais de dez anos que nao precisa ser anunciada. Meu pai o abraca e convida para partilhar do lanche. Saio da minha casa, e na minha mente esta clara, o mesmo hall do elevador, com pisos marrons, as paredes brancas. As duas portas do elevador enfileiradas na direita, e eu aperto a botao do elevador social, e agora me vejo no espelho a espera e a angustia. Vejo as ruas no meu caminho, o meu caminho, que conheco cada rachadura, cada bosta diaria no chao, cada buraco. O meu caminho, que sempre faco para ir pra faculdade, ou cursinho, batista, Gara, Ivo, Pedro ou pra sair livre pelo meu caminho. Londres eh plana, diferente de perdizes onde em cada morro se esconde a surpresa do horizonte. Cada onibus duplo se encole e se pinta de branco e vermelho. O torcedor do arsenal se transforma em um sao paulino feliz. As ruas se apinham de gente, as mulheres tiram o agasalho e se fazem mais tinhosas, a Oxford street vira a Paulista, a Trafalgar se apinhota de moleques cheirando cola e me vejo na Seh. O Thames passa a feder e da ponte imagino me jogando no Tiete.
Em toda a parte aqui eu reconheco Sao Paulo, mas em toda a parte eu sei que nao eh, pois em tudo reconheco como meu numa uniformidade a ser construida, uma natureza selvagem a ser domada de acordo com a minha mente, como uma obra de arte abstrata, e a minha mente sempre tenta elaborar a cidade perfeita, o lugar perfeito de se estar, e em tudo eu reconheco em algo essa perfeicao, mas tambem eu vejo que aquilo nao me pertence, pois se ao mesmo tempo me sinto parte de tudo, sinto tambem que nao pertenco a lugar nenhum.

Wednesday, February 08, 2006

Remelento

Mamae veio. Minha velha matrona italiana, chegando ao seu meio seculo de vida em abril, nao aguentou a saudade e atravessou meio mundo para rever o seu mais novo. Loirinha de olhos verdes, quando emperequetada de zilhoes de agazalhos parecia uma refugiada russa, doida para encontrar um filho que precisasse de suas afeicoes. Mas nao, ao contrario, encontrou um varao, daqueles a moda antiga, que cuida de sua progenitora a unhadas, que faz jus a sua honra e da sua liberdade se faz valer.
Me fez jantar, fomos passear e tudo o mais.
Mas pq ela nao veio uma semana mais tarde? Estou aqui na internet, todo remelento, nao consigo falar nem engulir. Nao fui trabalhar, fiquei de cama, e no almoco eu preparei a minha propria sopa. Doido por uma mae...
Ainda bem que, precavida, me deixou pastilhas.

Alias, feliz ano novo a todos... Os vejo em 2007!

Monday, January 16, 2006

O pombo gordo (carinhosamente apelidado de Durval)

Saindo pela piccadilly circus tube station, se vc se der o trabalho de se perder um pouco, eh provavel que acabe saindo numa praca chamada Berckeley Square. Dentro dela ande ateh o decimo segundo banco da esquerda e descance um pouco. Na sua frente aparecera o pombo mais gordo que vc jah viu na sua vida. Ele sempre fica no mesmo ponto, eu acho que nao consegue mais voar. Mas eh estremamente bem respeitavel dentro da comunidade pombal inglesa; de vez em quando os pombos mais novos vem pedir conselhos, e algumas maes oferecem suas filhas para acasalarem. Os que vem normalmente falam muito, mas o pombo gordo nao solta um "Grooo" sequer, ele fala com o olhar. Raramente sai de sua possicao ereta de esfinge, e ha no seu olhar o semblante de gordo faminto que pode devorar qualquer um que aparecer em sua frente.
Uma vez, mesmo temendo pela minha saude fisica, resolvi chegar perto do pombo gordo. Levantei do banco - ele nao se mexeu. Dei dois passos, ainda sem sinal. Estava dois metros, e a ave parada como se estivesse morta. Tomado pela confianca do sucesso, resolvi chegar mais perto, e de tao perto eu podia toca-lo com o braco, se quissesse.
Mas ele nao me deu essa chance. Me matou com o olhar.E nao precisou nem levantar a cabeca. Soh virou o olhinho gordo. "a praca eh minha, bloody idiot".
Derrotado, voltei para o banco. Antes de sentar, notei em uma placa: "Aqui neste banco Emily Grudden Steven aproveitou esse jardim, e conheceu o amor em Londres". Se vc se der o trabalho de se perder, vc pode acabar caindo nesse jardim.
Whistle Down the Wind
(Tom Waits)

I've grown up here now
All of my life
But I dreamed
Someday I'd go
Where blue eyed girls
And red guitars and
Naked rivers flow

I'm not all I thought I'd be
I always stayed around
I've been as far as Mercy and Grand
Frozen to the ground
I can't stay here and I'm scared to leave
(Just kiss me once and then)
I'll go to hell
I might as well
Be whistlin' down the wind

The bus at the corner
The clock's on the wall
Broken windmill
There's no wind at all
I've yelled and I cursed
If i stay here I'll rust
I'm stuck like a shipwreck
Out here in the dust

Sky is red
And there world's on fire
And the corn is taller than me
The dog is tied
To a wagon of rain
And the road is as wet as the sea
And sometimes the music from a dance
Will carry across the plains
And the places that I'm dreaming of
Do they dream only of me?
There are places where they never sleep
And the circus never ends
So I will take the Marley Bone Coach
And whistle down the wind